Quem sou eu

Minha foto
"Pela graça de Deus, sou um homem cristão; pelas minhas ações, um grande pecador; pela minha condição, sou casado com uma mulher maravilhosa, tenho uma filha espetacular, sou membro do Grupo de Oração Filhos de Maria da Renovação Carismática Católica de minha Paróquia, sou ministro da Comunhão Eucaristica e da Palavra, exerço o ministério de pregação em minha Diocese e sou professor na área da educação especial"

Pesquisar este blog

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Reverência na Oração


Por Pe. Afonso Rodriguez



"Sobre alguns meios para estar com atenção e reverência na oração"

Pergunta o Bem-aventurado São Basílio Magno: "Como podemos estar na oração firmes e com atenção, e não dispersos?"1 . E responde, que o meio mais eficaz para isto é considerar que está em presença de Deus, que o está vendo como ora; porque se aqui na terra o que está diante de um Príncipe, falando com ele, está com grande respeito e reverência, atendendo com muito cuidado ao que faz, e reparando muito nas ações e modo com que se porta, porque, se lhe desse as costas, o teria por grande indelicadeza, ou outra coisa semelhante, que fará aquele que atentamente considera, que está diante da Majestade de Deus, que o está vendo, não só exterior, mas interiormente, e penetrando o mais recondito do coração? Quem haverá, diz o Santo, que se atreva a apartar os olhos e o coração do que está fazendo, e se atreva a voltar as costas a Deus, e a estar naquele lugar imaginando em coisas indignas d'Ele? Aquele insigne Monge Jacob, como conta Theodoreto,2 usava desta consideração, para mostrar quão grande desatenção seja esta; e o traz também Santo Agostinho. Se eu, diz ele, fora criado de um homem, que é de minha mesma natureza, e no tempo em que o houvesse de servir, lhe não trouxesse de comer e de beber, por falar com outro criado, me reprenderia, e castigaria com muita razão.

Se Fosse diante de um Juiz, a queixar-me de quem me tivesse injuriado, e deixando-o com a palavra na boca, lhe voltasse as costas, e me puzesse a falar com algum dos que estavam presentes, não vos parece, que o Juiz me teria por homem descomedido, e me mandaria expulsar do Tribunal, onde estava julgando, como a um homem mal criado? Pois isto é o que fazem os que, indo à oração a falar com Deus, se distraem, pensando em coisas indignas daquele lugar. Nosso Padre 3 nos põem também este remédio, ou este meio, em uma das adições, ou advertências, que dá para a oração, onde diz, que um pouco antes de entrar na oração, por espaço de um Pai-Nosso, levantemos o espírito ao Céu, e consideremos que nos está vendo, para que, com grande reverência e humildade, entremos na oração. Devemos procurar que esta presença de Deus se nos não perca da vista, em todo o tempo da oração e da meditação, conforme aquilo do Profeta: “Et meditatio cordis mei in conspectu tuo semper”4.



São João Crisóstomo a este intento diz: “Fazei de conta que, quando ides para a oração, entrais naquela Corte Celestial, na qual o Rei da Glória está assentado em um Céu estrelado, cercado de inumeráveis Anjos e Santos, e que todos vos estão vendo”5, conforme aquilo de São Paulo: “Spectaculum facti sumus mundo, et Angelis, et hominibus”6.

Neste particular aconselha São Bernardo o que ele devia fazer: “Veniens ad Ecclesiam, pone manum tuam super os tuum, et dic: Expectate hic cogitationes malae, et intentiones, et affectus cordis, appetitus carnis; tu autem, anima mea, intra in gaudium Domini tui, et videas voluntatem Domini, et visites templum ejus - Quando entrares na Igreja, ou te recolheres a orar, põe a mão sobre tua boca, e diz: Ficai aqui à porta, pensamentos e apetites maus; e tu, alma minha, entra no gozo de teu Senhor, para que vejas, e faças sua santa vontade”7.



Diz São João Climaco,8 que aquele que, fazendo oração, consideração deverás que está diante de Deus, está como uma firme e constante coluna, que se não move; e refere que, reparando ele uma vez em um religioso, o qual estava mais atento que os demais no cantar do Salmos, e vendo que, especialmente ao princípio dos Hinos, com a figura, e semblante, que mudava, parecia que falava com outro, lhe pediu depois, que lhe dissesse o que aquilo significava? Respondeu o Monge: Eu no princípio do Ofício Divino costumo recolher-me com grande cuidado o meu coração, e pensamentos, e chamando-os a mim, lhes digo: “Venite, adoremus, et procudamus, et ploremus ante Dominum, qui fecit nos; quia ipse est Dominus Deus noster, et nos populus pascuae ejus, et oves manus ejus - Vinde, adoremos e prostemos-nos diante do Senhor”9.



Todas estas considerações são muito boas, e muito proveitosas, para estarmos com atenção e reverencia na oração.

Outros dão como remedio estar diante do Santíssimo Sacramento, se estivermos onde se possa fazer, ou estar perto do mesmo Senhor sacramentado, com o coração no lugar onde ele estiver, e também pôr os olhos no Céu.

Também é muito bom remédio para cada um mais se avivar, quando tem distrações e seguidão na oração, usar de jaculatórias, e dizer algumas orações a este intento, falar covalmente com Deus, representando-lhe sua fraqueza, e pedindo-lhe remédio para ela: “Domine, vim patior, responde pro me: Senhor, respondei por mim, que padeço força” 10.



Aquele cego do Evangelho, ainda que Cristo nosso Redentor parece que dissimulava, e passava de largo, e ainda que a gente o mandava calar, ele não deixava de dar vozes, antes as levantava cada vez mais, clamando e dizendo: Jesus Filho de Deus, tende misericórdia de mim.

O mesmo devemos nós fazer, ainda que o Senhor dissimule, e nos pareça que passa de largo em nos visitar; ainda que a turba e multidão de pensamento, e tentações nos obriguem a calar, nem por isso havemos de deixar de dar vozes, antes então com maior instancia havemos de chamar pelo Senhor: “Jesu Fili David, miserere mei: Senhor, tende misericórdia de mim11. Confirma me, Domine, Deus meus; in hac hora: Senhor, fortalecei-me e confortai-me o coração nesta hora, para que possa imaginar em vós, e estar firme e constante na oração”. Dizia uma Santa: “Se não poderdes falar com Deus com o coração, não deixeis de falar com a boca muito a miudo; porque o que assim se diz freqüentemente, facilmente dá calor e fervor ao coração”12. De si confessa essa santa, que algumas vezes, por não fazer estas orações vocais, perdeu a oração mental, porque era, diz, perseguida e impedida da pregüiça e do sono. Por nós outros passa isto muitas vezes: repetidas vezes sucede deixar algum de falar na oração por pregüiça, frouxidão, ou por estar quasi dormindo, que se falara, despertara e se avivaria para a oração.

Diz Gerson13, que também é muito bom remedio para as distrações levar bem preparado o exercício, e determinados diversos pontos para a oração; porque com isto, quando qualquer de nós se distrair, em o advertindo, tem já o seu ponto certo e determinado, para lhe servir de refúgio; e se nele não acha entrada, passa logo a outro ponto dos que leva prevenida, e torna mais facilmente a introduzir-se na sua oração. Nós mesmos por experiência, quando nos examinamos, achamos que muitas vezes a causa de estarmos distraídos, e andarmos vagueando em coisas diversas, costuma ser, porque não levamos preparados e sabidos os pontos, sobre os quais havemos de ter oração, e por não termos coisa certa e determinadas, a que nos havemos de acolher.



Além disso este aviso e o seguinte são necessários para irmos preparados à oração: e nosso Padre nos encomenda isto com palavras encarecidas: “Magnopere juvabit, ante ingressum exercitii tractanda puncta comminisci, et numero certo praefinire: Ajudará, diz, grandemente antes de entrar na oração recapacitar os pontos, que se hão de meditar, e levar determinado o número deles”14. Do mesmo santo lemos, que assim o fazia, não somente nos seus princípios, mas também depois; e sendo já velho, lia e preparava o seu exercício alguma parte da noite, e se recolhia com este cuidado; para que ninguém imagine que isto só é importante aos Noviços, ou que é exercício para principiantes.

E ainda que quqlquer de nós saiba muito bem o exercício, e esteja nele muito destro, pelo haver meditado já outras vezes, com tudo é muito importante que se prepare como de novo, especialmente porque como aquelas palavras comumente são da Sagrada Escritura, ditadas pelo Espírito Santo, se devem ler com descanço e quietação, porque despertam uma nova atenção, para haver de meditar nelas, e para que mais aproveitem.



Também para este mesmo fim será muito conveniente que, logo em despertando, não dando entrada a outros pensamentos, imaginemos no exercício, que havemos de ter, preparando-nos para a oração com alguma consideração acomodada ao que havemos de mister.

Cassiano, São Boaventura e São João Clímaco15, tem este aviso por muito importante. Dizem que dele depende o governo de todo o dia; e adverte São João Clímaco, que, como o demônio sabe que este exercício é de tanta importância, anda muito solícito, cuidadoso e vigilante, esperando que despertemos, para ocupar logo o lugar e recolher as primícias de todo o dia.



Diz mais este Santo, que há entre os espíritos maus, um a quem chamam precursor, o qual tem por ofício assaltar-nos, tanto que despertamos o sono, e ainda antes que acabemos de despertar, quando qualquer de nós ainda de todo não está em si, para nos por diante dos olhos do intendimento coisas feias e torpes, ou ao menos coisas impertinentes, para tomar posse de todo o dia; porque todo ele lhe parece será de quem primeiro ocupar o coração.



Por esta causa é necessário que cada um de nós esteja também muito vigilante para lhe não dar entrada; mas antes, tanto que despertarmos, e apenas abrirmos os olhos, logo no mesmo momento esteja plantada a memória do Senhor no nosso coração, antes que outro qualquer pensamento ocupe a morada. Este aviso nos dá também nosso Santo Padre, e acrescenta, que o mesmo se há de observar a seu modo, quando tivermos oração a outra hora, recolhendo-nos por algum breve espaço antes a imaginar: Para onde vou eu? Diante de quem hei de aparecer na oração? E recapacitando brevemente o exercício em que hei de meditar, como quem afina uma viola para tocar.



Geralmente dizia nosso Santo Padre, que da observância destes e de outros semelhantes avisos, a que ele chama adições, dependia em muita parte termos boa oração, e tirarmos dela copioso fruto, como nós muito de ordinário experimentamos, porque, quando vamos bem preparados, e guardamos pontualmente estes avisos, a que ele chama adições, dependia em muita parte termos boa oração, e tirarmos dela copioso fruto, como nós muito de ordinário experimentamos, porque, quando vamos bem preparados, e guardamos pontualmente estes avisos, nos sucede bem na oração, e pelo contrário quando nos esquecemos deles.

Pela boca do sábio diz o Espírito Santo: “Ante orationem praepara animam tuam, et noli esse quasi homo, qui tentat Deum:16 Antes de entrares na oração, prepara-te bem para ela, e não sejas como o homem, que tenta a Deus”17. Sobre estas palavras notam São Tomás de Aquino e São Boaventura, que ir à oração sem preceder preparação, é como tentar a Deus; por que tentar a Deus, dizem os Teólogos e os Santos, é querer alcançar alguma coisa sem aplicar os meios ordinários, e necessários para esse fim; como se alguém dissesse: "Não quero comer, porque Deus bem me pode sustentar sem que eu coma, ele me sustentará", seria tentar a Deus, e pedir um milagre sem necessidade. Assim disse Cristo nosso Redentor ao demônio, quando o levou ao pináculo do Templo e o persuadia a que se precipitasse dele abaixo, porque Deus mandaria os seus Anjos que o sustentasse, e tivessem nas palmas18: Non tentabis Dominum Deum tuum: Não tentarás a teu Deus e Senhor. Eu bem posso descer pela escada, porque o mais é tentar a Deus, e pedir que faça um milagre sem necessidade. Adverti pois, e ficai de aviso, que é remédio tão principal, e tão necessário para a oração, o prepararmo-nos para ela, que diz o Sábio, que querer ter oração sem esta preparação é como tentar a Deus, e é querer que faça em vós um milagre. É certo que nosso Senhor quer que tenhamos boa oração, e com muita atenção e reverência; porém há de ser pelos meios ordinários, dispondo-nos e preparando-nos para ela do modo que ficou dito. Amém.



01- Basil. In Regul. Brev. 201 et 206 et in Const ad Monac. Solitar.

02- Theodor. in histor. Sanc. Patr. Cap. 21. aug.sup Psalm 85.

03- S.Ignat. Lib.Exerc.Spiritual.

04- Ps. 18,15

05- Chrysost. sup.illud Psalm. 4. Miserere mei, et exaudi orationem meam. Tom. I.

06- I Ad Cor. 4,9

07- Bernard.

08- Climaco. in Scala Spirit. Grad.4.et 18.

09- Psalm 94,6

10- Is 38,14.

11- Mc 10,47; Lc 18,38

12- Judith 15,9

13- Gerson

14- S.Ignatius lib. Exercitior, Spiritualium notabil. 3.4 hebdom.

15- Bonav. in Informat. Novitior. part.1 c.4. Cum evigilas, statim omnes cogitationes tuas abjice de corde tuo et offer Deo primitias cogitationum tuarum. Climac. cap.21. S.Ignat. lib. Exerc.Spirit.addit.2. prioris hebdomad. et addit. 2 secundae hebdom.et in. 1. orand.mod.

16- Ecl 18,32.

17- S.Thom. 2.2. q.97.art.3.ad 2.Bonav.in.Opusc.cuj.tit.est Regul.Novitior.cap.2.

18- Mt 4,7





Nenhum comentário:

Postar um comentário